O Despotismo da Democracia – Por Leyla Yurtsever

Em pouco mais de duas décadas muita coisa mudou no processo eleitoral. Formas de fazer a divulgação, meios de votação, restrição aos candidatos, dentre outras coisas. Tudo tendo o objetivo de consolidar o que se entende por democracia, onde a sociedade não apenas observe os acontecimentos, mas faça parte dos mesmos.

Faz parte do imaginário popular a afirmação de que o Brasil é uma democracia. No entanto, quando se observa mais nitidamente, essa parece o horizonte: quanto mais nos aproximamos, mas longe está. Senão vejamos.

O tempo de propaganda na televisão e rádio para os candidatos apresentarem suas propostas é dividido conforme as coligações. Assim, quanto maior o poderio das legendas, maior o tempo de exposição. O que vale não é a qualidade das propostas, mas sim o poder de sedução de meias verdades e novas mentiras, encobertas por uma igualdade abstrata.

Outra ênfase neste momento é que o processo democrático é exercido plenamente pelo voto. Desta forma, nossa democracia se esgota pela representação no momento de confirmar o voto. Qualquer participação direta na polis é vetada. Uma formalidade democrática que se repete apenas na substituição de governantes, onde inexiste uma democracia participativa, apenas a representativa.

Como resultado de tudo isso tem-se uma percepção distorcida e opaca do que seja cidadania. A cidadania se completa não apenas com direitos e deveres, mas principalmente na possibilidade de expressar-se quanto à política do Estado que determina aqueles direitos e deveres. É preciso ter poder de participação, influencia e autonomia para com o Estado. Ou seja, mesmo o Estado está circunscrito a limites de interferência na vida do cidadão. Altere-se isso, é o resultado serão escravos não cidadãos.

Por mais inoportuno que tudo isso seja, hão de afirmar que qualquer mudança democrática somente é possível pelo sistema eleitoral, com aprovação popular feita pelos votos. Assim, não existe democracia fora do sistema eleitoral. Nada mais tirano e totalitário.

Neste momento, ganha todo sentido a afirmação de Diderot: Ter escravos não é nada, mas o que se torna intolerável é ter escravos chamando-lhes cidadãos.

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